quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Desafio: Teoria X Prática

O ano que passou foi marcado por uma série de ações coletivas direcionadas à realidade social em Foz do Iguaçu. Instituições, movimentos, simpatizantes, todos que partilharam de reflexões comuns ou semelhantes referentes aos problemas sociais existentes na fronteira. Tais circunstâncias fazem com que possamos ter esperança na realização de alguns objetivos que antes eram tidos como improváveis e que hoje, com as atuais articulações se fazem possíveis.


Sabemos que no decorrer desse processo eventuais problemas de cunho ideológico, teórico e científico podem fazer com que tais grupos que hoje se vêem engajados no mesmo ideal possam voltar ao ponto zero. Situação vista em tantos outros movimentos e períodos distintos, o que seria um grande retrocesso visto que tal conjuntura não se forma de um dia para o outro. Sabendo que existe uma linha muito tênue que separa cada convicção, logo nos resta pensar em alguma forma ou metodologia que possa nos orientar na atual conjuntura.


Partindo de uma visão atual, encontramos intelectuais e pesquisadores que claramente desistiram de um método e de uma teoria reflexiva que olhem além das problemáticas lógicas, caindo em um fanatismo ideológico. Concluem que o domínio da ciência só é útil se for para a mudança da realidade a qualquer custo, qualquer coisa que fuja dessa perspectiva se torna mal visto ou simplesmente descartável.


No entanto, há de se entender que tal postura tenha suas razões. Desde o início, as ciências sociais no seu sentido mais amplo possuem um viés conservador e fora assim até hoje. Não suficiente, as universidades e os meios acadêmicos ao reproduzirem tal postura tornaram-se mais um motivo de desilusão e descrença quanto à possibilidade de mudança da realidade social. Salvo algumas exceções, que não por acaso, são essas que até hoje vem motivando as discussões “não conservadoras”.


Dessa forma à impressão que em muitos casos os não conservadores acabaram criando uma ciência não mais coerente e compromissada com a leitura da totalidade, mas sim uma readaptação da ciência segundo os objetivos da sua ideologia. Ao ser vista por essa perspectiva, se realiza o uso invertido da teoria, utilizando-a somente para a leitura do que se quer acredita como verdade.


Parece que, ao se depararem com a complexidade das relações sociais há uma insatisfação entre o que se sabe da realidade e o que é possível de ser alterado a curto prazo, gerando mais motivos para não se dar a merecida atenção à teoria. Nesse processo a coerência teórica estando com seu papel corrompido faz com que os acertos futuros estejam comprometidos.


Metodologias alternativas muitas vezes iniciam-se dessa forma e acabam menosprezando o conhecimento popular. Ao separarem a teoria e a prática, acabam tratando a população como objetos, assim como as ideologias dominantes fazem. Por mais que o ponto central da discussão tenha um caráter humano, tais equívocos fazem com que acabamos nos parecendo com aqueles nos quais nos opomos.


É um equivoco subjugar a teoria à pratica, mesmo porque esta sozinha nunca foi critério exclusivo de verdade, porque corrompe a unidade dialética e promove um ativismo tapado. A separação promove um desconhecimento da formalidade, da realidade e da atividade cientifica, que por sua vez necessita de método, sistematização entre outras características que o tal ativismo não contempla. Corre-se o risco de uma proposta por vez bem intencionada e cheia de valores extremamente humanos serem vistos pelo saber popular de forma totalmente corrompida e ideologicamente fracassada.


Mais do que nunca é preciso voltar à teoria, saber que valorizar em medidas coerentes o trabalho cientifico pode ser uma ferramenta importante no convencimento do que se quer alcançar. Caso contrário, o modelo ideológico dominante pode caracterizar as ações contrarias às suas como um populismo barato, que insiste em codificar as vontades de uma parcela pequena da população, objetivando somente a realização de objetivos fragmentados, sem tanta importância.


Enfim, não se pretende que as ações desses grupos dos quais nos incluímos e que merecem todo respeito pelas devida ações realizadas, que com certeza estão fazendo uma diferença ao ocupar espaços públicos, acrescentando em discussões de forma a deixarem suas mensagens sempre nobres, acabem ou se interrompam, mas que estejamos casa vez mais cientes dos desafios que temos, para que não subjuguemos as condições subjetivas de mudança social, como se a excitação política sozinha atingisse o objetivo da propagação de nossos ideais.