segunda-feira, 28 de maio de 2012

CARTA ABERTA SOBRE O DESPEJO OCORRIDO EM GUAÍRA - PR


Conforme foi noticiado pelos meios de comunicação da região Oeste do Paraná, na manhã do dia 22 de maio de 2012 ocorreu despejo feito pela Polícia Militar de aproximadamente 50 famílias de trabalhadores que residiam no Bairro Vila Alta, em Guaíra. Segundo as informações noticiadas nos meios de comunicação, a desocupação teria sido pacifica e as famílias já seriam encaminhadas para um cadastro para receber casas populares ou para casas de parentes.

Porém, em vista da necessidade de conhecer mais sobre o caso e acompanhar de perto a real situação daquelas famílias, na manhã do dia 24 de maio de 2012 (quinta-feira), uma comitiva de representantes de organizações sociais e políticas da região Oeste/PR, além de um advogado, realizou uma visita a um alojamento, onde se encontra a maior parte dessas pessoas. Ao contrário do que foi noticiado pela imprensa, deparamo-nos com uma situação caótica.
Centenas de policiais cercaram toda localidade e não permitiam
a aproximação dos moradores da localidade
Segundo relato dos moradores a desocupação não foi pacífica. Eles teriam sido pegos de surpresa, no início da manhã, pois não sabiam que estava ocorrendo o cumprimento de uma liminar de reintegração de posse, solicitada pela Prefeitura Municipal. Assim, as famílias foram arrancadas de suas casas sob o terrorismo psicológico imposto pelos policiais e ainda sob ameaça de prisão.

Cerca de 300 homens da PM cercaram o bairro, retirando as pessoas de suas casas, separando os homens das mulheres e prendendo-os numa área próxima. Durante horas essas pessoas foram expostas a uma situação degradante, vexatória de humilhação. Moradores de bairros próximos foram impedidos de se aproximar do local.

Os moradores que haviam saído para o trabalho antes do despejo, ao retornar,depararam-se com os escombros de seus lares, bem como seus móveis destruídos. Foi no curto período de tempo da desocupação até a chegada de caminhões da prefeitura em que os moradores puderam retirar um pouco de seus pertences. Muitos móveis, roupas e eletrodomésticos foram perdidos.


Moradores inconformados com a destruição de suas casas 

Várias famílias haviam feito empréstimo consignado para construção de suas casas, agora, mesmo sem casa, deverão continuar pagando.

Hoje, a situação dessas famílias é de calamidade. Alguns conseguiram encontrar apoio de parentes. Outros, segundo relato dos moradores, estão nas ruas. A maioria deles está amontoada no Centro Náutico Marinas, mediante recomendação da Prefeitura, em condições sub-humanas.

No local há goteiras, as crianças estão sem aula, há
apenas um chuveiro para todas as famílias e os moradores não
conseguiram recuperar suas roupas para se protegerem do frio

As crianças estão sem acesso à escola e o transporte não passa na região. Após o poder público criar tal situação de risco para as crianças, agora os representantes do conselho tutelar ameaçam retirar as crianças da guarda de seus pais. Os moradores estão sem acesso aos seus pertences que haviam conseguido salvar inclusive idosos estão sem acesso aos seus medicamentos. Eles estão passando frio e se encontram em condições precárias de higiene. O local é cheio de goteiras, o que mantém as pessoas úmidas o tempo todo. Vários trabalhadores perderam seus empregos.

Segundo os relatos dos moradores, já havia quase um ano que eles estavam na área.São famílias pobres que não tem condições de pagar aluguel. Antes da vinda dos moradores, no local,havia um depósito de entulhos. Posteriormente, houve uma pequena criação de gado. Hoje se encontram no local somente os destroços dos móveis e das casas.

O local hoje é o retrato de um campo de guerra. Muitos trabalhadores já
haviam investido em suas casas, que foram destruídas às pressas.
Apesar dessa situação, há pouca repercussão no município de Guaíra cujo à população pouco sabe sobre o futuro dessas famílias. Além disso, as famílias não podem recuperar o que foi perdido enão há garantia de que terão casa popular, apesar das promessas. O que, ainda, se for o caso, pode demorar meses.

Diante dessa situação, as organizações abaixo-assinadas resolvem encaminhar a presente carta aberta à comunidade para divulgar a situação dos moradores. Fazemos isso, também, como uma forma de cobrar mais publicidade sobre o caso e pressionar o poder público local para que se responsabilize e apresente uma solução imediata para um problema que ele mesmo criou.

Nos solidarizamos com estes trabalhadores e chamamos a população a se somar na construção de uma rede de apoio, visando que seja respeitado o direito dessas famílias, assim como de inúmeros outros trabalhadores de nossa sociedade, a terem acesso a uma moradia digna.

Marechal Cândido Rondon, 24 de maio de 2012.


APP de Luta e Pela Base – Oposição Alternativa  (Núcleo Sindical de Toledo)
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