Aproveitando a reta final das eleições, gostaríamos de provocar algumas reflexões e apontar alguns aspectos que não podem passar despercebidos no momento da escolha do candidato. Não levando em consideração a importância do pleito eleitoral ou a capacidade de transformações sociais através do mesmo, neste momento o objetivo deste pequeno texto é apenas destacar quatro elementos constantes nos discursos políticos e que precisam ser pensados com cuidado antes de qualquer decisão e antes da escolha definitiva de um candidato.
Desenvolvimento Sustentável – é comum dentro dos programas eleitorais a tentativa de pensar o crescimento econômico sem danificar o meio ambiente, porém a viabilidade disso precisa ser analisada com ressalvas. O grande problema ambiental é o excesso de consumo, pois este exige uma grande extração de recursos naturais. Logo, qualquer tentativa de diminuição de impacto ambiental precisa estar direcionada a diminuição da utilização de recursos fósseis e minerais e, conseqüentemente, do consumismo e isso é inviável dentro de uma sociedade que tem como sua essência o mercado.
Educação – outro aspecto diário é a crença que a salvação para os problemas do país encontra-se na educação. Não desconsideramos sua importância, mas é preciso explicitar que a condução do debate fortalece uma idéia de meritocracia, ou seja, aqueles que estudam mais e possuem melhor capacitação terão um lugar ao sol e no mercado de trabalho. Essa concepção teórica ao individualizar a responsabilidade pelo sucesso pessoal desconsidera três aspectos fundamentais: 1) o sistema educacional é resultado das relações de classe e, desta forma, oferece oportunidades dualistas onde se encontra uma escola para os trabalhadores e outra para aqueles que irão conduzir a economia e a política do país; 2) dentro de uma sociedade hierarquizada, as condições de ascensão social estão vinculadas a articulações políticas e ideológicas, visualizadas em alianças espúrias, na corrupção e na troca de favores; 3) por fim, afirmamos que a educação não pode ser entendida como sinônimo de ensino, ela é um fenômeno mais amplo que envolve a formação humana social.
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Segurança – de forma objetiva este problema vem sendo tratado como caso de polícia, envolvendo o aumento de vigilância, de patrulhas e o fortalecimento das punições. Raros os candidatos que se preocupam em refletir sobre as causas da insegurança, a origem dos grupos de risco, a origem dos grupos criminosos. O problema não é a violência, mas a desigualdade social e o estilo de vida consumista existente na sociedade contemporânea que alimenta tal situação. Ao invés de observamos uma preocupação com a solidariedade e com a produção coletiva de conhecimento e dos meios de subsistência vemos o incentivo à concorrência a ao mercado. O modelo de Estado neoliberal preza minimamente para a área social e ao máximo para capital especulativo e fictício, agravando as desigualdades sociais e dificultando qualquer tentativa de controle social das políticas públicas voltadas para prevenção à criminalidade. Se o Estado precisa existir, este deve garantir a efetivação dos direitos sociais fundamentais a toda pessoa e não agir no limite destes direitos. Neste sentido, constata-se que as políticas públicas existentes são direcionadas para os segmentos vulneráveis e na maioria das vezes não presa pela família/sociedade como um todo, atuando apenas nos problemas que já estão postos e não na perspectiva de prevenção dos mesmos.
Movimentos Sociais - a organização popular é bem vista por parte dos candidatos quando pode auxiliar o governo no desenvolvimento de suas obrigações, ocupando espaços que a política econômica liberal não atribui importância, como no atendimento dos grupos em situação de vulnerabilidade. Os movimentos sociais que visam acompanhar as políticas, reivindicar demandas, propor novas formas de organização social através de práticas sociais mais incisivas, como a ocupação de terras e de espaços públicos ou o levantamento de denúncias são criminalizados. Desta forma, na concepção dos candidatos, a sociedade civil organizada tem importância quando ela pode ser utilizada em defesa dos interesses da sociedade política. Para esta desestruturação dos movimentos sociais organizados, há por parte do Estado uma instrumentalização dos direitos do consumidor se sobrepondo aos direitos do trabalhador, reduzindo a insatisfação popular, o poder de luta e a organização da classe trabalhadora, deixando nebulosas as reais intenções e os fundamentos da exploração, da exclusão social, da miséria, do desemprego, da falta de esperança, ou seja, dos interesses do capital para legitimar o sistema e reproduzir as relações sociais com vistas ao processo de acumulação.
Acreditamos que estes quatro elementos sejam fundamentais na construção de um projeto societário mais justo, mas desenvolvidos dentro de outras concepções de produção e consumo. Assim, é necessário ficarmos atento para as formas que os políticos de maior destaque na mídia pensam tais problemas. Não depositem seu voto em políticos que falam em transformações, mas não mudam sua forma de ver e atuar com os trabalhadores, com os movimentos sociais. Políticos que querem justiça, mas não querem pagar o preço de acabar com as desigualdades e os antagonismos nas relações entre capital e trabalho. Vote consciente, fique atento!
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