sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Algumas Observações Referentes ao Movimento Estudantil

               Historicamente o Movimento Estudantil participou e foi o principal articulador de muitas reivindicações em nosso país. O auge de sua trilha revolucionária se deu no final dos anos 60, quando a ditadura militar abateu e esmagou o desenvolvimento que o movimento estava construindo ao longo dos anos. Em 1937 os estudantes conseguiram a criação da União Nacional dos Estudantes (UNE), a entidade brasileira que representa os estudantes universitários. Anos depois o movimento dos secundaristas também penetrou e passou a participar ativamente no programa da entidade. Sob a intervenção do Partido Comunista Brasileiro, que organizou e politizou os estudantes, o movimento estudantil adquiriu um caráter político estudantil onde na década de 1950 principalmente, mostrou-se como uma organização de fundamental importância no combate as políticas privatistas da época, quando os jovens saíram as ruas na campanha antiimperialista pela nacionalização do petróleo.
           No entanto, em 1964 diante da ditadura militar, o país se viu esmagado pela repressão e censura dos militares. Nessa época muitos líderes de movimentos estudantis foram assassinados, fato que serviu de combustível para a explosão de intensas manifestações contra o regime e suas práticas de opressão. Em junho ocorre a histórica manifestação dos cem mil, cuja principal reivindicação era "ABAIXO A DITADURA!” Com grande repercussão, esse episódio possibilitou a aceleração da decadência do regime ditatorial no Brasil. Durante a campanha das “DIRETAS JÁ!” mais uma vez o movimento estudantil mostrou sua força, envolvendo toda a população na exigência para a volta das eleições diretas para presidente no Brasil. Logo depois mais um grito saiu da garganta dos estudantes e fez tremer as estruturas corruptíveis do governo do Brasil, o “FORA COLLOR!” foi gritado com tom alto pela sociedade brasileira, exigindo um país mais justo e sem corrupção, resultado impeachment do então presidente Fernando Collor de Melo.
               Contudo, é importante salientar que tais mobilizações contavam com um conjunto de movimentos, grupos e partidos políticos articulados. As ações não foram promovidas exclusivamente por um comportamento autônomo e independente das entidades e instituições. Em um momento histórico marcado pelos antagonismos entre o bloco americano e soviético, os contrastes sociais na realidade local e nacional eram mais visíveis e mais questionados. Assim, a possibilidade de isenção dos grupos populares e da própria mídia diante dos diversos problemas do país era nula. Interesses políticos e econômicos ou os interesses de classes eram fundamentais no engajamento das diversas expressões da sociedade civil organizada nas diferentes mobilizações que ocorriam como é o caso do exemplo mais recente, onde os canais de televisão, principalmente a Rede Globo, tiveram uma participação fundamental no impeachment do presidente e atual senador Fernando Collor de Melo, que “curiosamente” hoje é membro da aliança governista composta pelos partidos que no passado exigiram sua própria cassação (PT, PC do B, PMDB, PDT, PR, PRB, PSB, PSC, PTC e PTN). 
Todo caso, estes foram alguns dos principais momentos vividos pelo movimento estudantil no Brasil, o que mostra a importância do mesmo. Trazendo a atuação desse movimento para a região de Foz do Iguaçu, percebe-se a relevância dos movimentos político-estudantis atrelada ao desenvolvimento de todos os movimentos sociais da cidade. No entanto, o movimento estudantil em Foz não está em boa fase. A tão importante União Municipal dos Estudantes de Foz do Iguaçu (UMEFI) está desativada há alguns anos. Seu momento de maior participação com os grupos estudantis foi a partir do ano de 1999 com a eleição da chapa “Peraí Dá Um Tempo pra UMEFI” que contou com a direção da União da Juventude Socialista (UJS). Acompanhando a tendência nacional, na época a UJS/PC do B era a entidade que dava base ao movimento estudantil na cidade e no país. No período de sua gestão foram realizadas lutas pelo passe livre estudantil, com grandes manifestações na Ponte da Amizade, fortalecendo a entidade, que rapidamente ganhou espaço e aceitação entre os estudantes. O ano de 2000 foi intenso e profundamente marcado pelo movimento estudantil, projetos de iniciativa cultural e reivindicação tinha Foz do Iguaçu como cenário principal.
Umas das entidades de grande representação estudantil na cidade era o Grêmio do Colégio Estadual Barão do Rio Branco: João Carlos Ferreira (nome dado ao grêmio em homenagem ao militante da UJS que foi assassinado tentando separar uma briga), espaço de onde saíram muitas pessoas que hoje estão inseridas no cenário político da cidade. Uma das lutas mais importantes vencida pelos estudantes do grêmio citado foi à luta travada contra a decisão do governo Jaime Lerner de acabar com os cursos profissionalizantes, que na época atingia o curso de magistério do colégio. A união da UMEFI, UJS, professores e demais estudantes venceu e conseguiu manter o curso na instituição. Todavia, atualmente poucos grêmios são ativos e atuantes. Em grande medida a organização dos estudantes no interior das escolas começou a ser utilizada de maneira instrumental pelos próprios diretores na busca de sustentação política e levantamento de recursos para a manutenção dos estabelecimentos de ensino.
Entretanto, a atual situação não elimina a história do movimento estudantil na cidade, que durante muito tempo mostrou sua força atuando nas relações e reivindicações dos estudantes em Foz do Iguaçu. A UMEFI como já foi dito, está parada há alguns anos, mas existe um projeto que foi votado ainda no início deste ano, no Congresso Municipal da UJS, tendo como objetivo a reconstrução e gestão da antiga organização estudantil que, como já afirmamos, mostrou sua importância no desenvolvimento político-estudantil. Além disso, também está para ser criado o Núcleo da União Paranaense dos Estudantes (UPE) em Foz do Iguaçu, conforme foi decidido no Encontro Estadual de Juventudes em Curitiba. O problema é que todas essas propostas estão desde o início do ano no campo das idéias e propostas, e a realidade é que o Movimento Estudantil está cada vez mais inativo. Até agora o movimento que mais tem mostrado sua cara, é o movimento estudantil secundarista, representado principalmente pelo grêmio do Colégio Estadual Bartolomeu Mitre que vem constantemente participando de manifestações e plebiscitos populares organizados pela própria União Paranaense dos Estudantes (UPE).
Para finalizar, cabem algumas reflexões um pouco mais profundas sobre o assunto. O processo de ascensão e queda dos diferentes movimentos estudantes locais e nacionais acompanha a mesma trajetória realizada pelos antigos partidos de esquerda que no passado lhe davam suporte. O período de maior vitalidade de tais movimentos foi quando os partidos de maior inserção na realidade estudantil ainda guardavam o pensamento crítico e se colocavam como oposição a tendência política liberal. Quando tais partidos, principalmente PT e PC do B, se tornam a base principal do governo, aliando-se a adversários históricos, o seu caráter de movimento combativo e oposicionista foi fragilizado, pois como é possível ser oposição aos partidos que lhe dão sustentação? Logo, observar uma rearticulação da UMEFI no entorno dos partidos da situação é algo questionável. Até que ponto o movimento estudantil em Foz do Iguaçu que na maioria do tempo foi/é dirigido por uma entidade que deixa claro sua característica política-partidária, é influenciado e/ou usado por partidos em suas relações de poder?


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