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terça-feira, 8 de março de 2011

Foz do Iguaçu no Mapa da Violência no Brasil

      Quando se retratam os quadros de violência no Brasil destacam-se sempre os índices de homicídios. Estes não correspondem os únicos reflexos do problema, mas configuram-se como seus casos mais extremos. Além disso, a violência física e psicológica, roubos, furtos e assaltos possuem baixos índices de denúncia. Nos casos de violência física, só 6,4% dos jovens denunciaram à polícia; nos casos de assalto/furto, só 4%; nos casos de violência no trânsito, só 15%.
      Como destaca Waiselfisz, autor do “Mapa da Violência 2010”, o tratamento do crime, da violência e do suicídio como fato social, ou seja, como um objeto de estudo sociológico, permite reabilitar cientificamente esses fenômenos e demonstrar que a prática de um crime depende não tanto do indivíduo, senão das diversas formas de coesão e de solidariedade social. Do mesmo modo, as diversas formas de produção homicida, longe de serem produtos aleatórios de sujeitos ou grupos isolados, configuram comportamentos que encontram sua explicação nas situações sociais, políticas e econômicas que o país atravessa.
      O relatório de pesquisa do Instituto Sangari, demonstra que o número de homicídios no Brasil cresceu sistemática e significativamente até o ano de 2003, com incrementos elevados: em torno de 5% ao ano. No entanto, em 2004, essa tendência se reverte, quando o número de homicídios cai 5,2% em relação a 2003. Uma das possíveis explicações para essa queda pode ser às políticas de desarmamento desenvolvidas a partir de 2003. Contudo, nada permite afirmar que tais políticas tenham sido mais importantes que a estabilidade econômica e política que o país vem encontrando.
      Tomando em consideração o crescimento populacional, a evolução na década apresenta-se como uma grande pirâmide com os anos extremos praticamente idênticos (25 homicídios em 100 mil habitantes) e um pico pronunciado nos anos centrais – 2002 e 2003 –, quando as taxas se elevam para quase 29 homicídios em 100 mil habitantes. Estes dados se referem a uma observação geral do problema. Os índices variam muito conforme a faixa etária, o sexo e a raça das vítimas de homicídio.
      O documento publicado pelo Instituto Sangari demonstra que Foz do Iguaçu encontra-se no 12º lugar entre os municípios que possuem os maiores número e taxas médias de homicídio (em 100.000) na população total dos municípios brasileiros, apresentando índices de 241 285 275 327 292 entre os anos 2003, 2004, 2005, 2006 e 2007 respectivamente. No entanto, a situação se agrava quando são observadas mais especificamente as taxas de homicídios referentes aos jovens. O município encontra-se em primeiro lugar naquilo que se referem ao “Número e Taxas Médias de Homicídio (em 100.000) na População de 15 a 24 anos nos Municípios com 2.000 ou mais Jovens de 15 a 24 anos”, apresentando índices 102, 134, 135, 153 e 143 homicídios a cada 100.000 habitantes entre os anos 2003, 2004, 2005, 2006 e 2007 respectivamente.
      Os números referentes aos homicídios de jovens colocam o Brasil em uma incômoda 6ª posição entre os diferentes países do globo, logo abaixo de países com evidentes problemas com suas gangues juvenis, como El Salvador e Guatemala, ou países de longa história de guerrilhas e narcotráfico, como a Colômbia. A situação do Brasil, com 50,0 homicídios a cada 100 mil jovens, encontra-se bem longe da de países como Japão, Hong Kong, Islândia ou Cingapura, que praticamente não registram homicídios jovens, ou a de países como Itália, Polônia, Grécia, Suécia, Coreia, Austrália, Reino Unido, França, Noruega, Suíça, entre outros, que registram menos de um homicídio em 100 mil jovens.
      Naquilo que se refere ao “Número e Taxas Médias de Homicídio (em 100.000) na População de 15 a 29 anos”, Foz do Iguaçu encontra-se em terceiro lugar, atrás dos municípios de Maceió e Arapiraca, ambos no Estado de Alagoas. Os índices de homicídios a cada 100.000 habitantes são de 141, 177, 184, 211 e 187 entre os anos 2003, 2004, 2005, 2006 e 2007 respectivamente. Contrário às quedas nas taxas de homicídios das Capitais e Regiões Metropolitanas no interior dos estados, observa-se um crescimento de 37,1% entre 1997 e 2007. Essa diferença de ritmos, com Regiões Metropolitanas e Capitais estagnando ou caindo enquanto o interior continua crescendo representa uma interiorização da violência;
      A identificação deste processo é significativa por chamar a atenção para as novas dinâmicas de desenvolvimento no país. Os homicídios representam a violência e também as metamorfoses das questões sociais originadas da ampliação dos antagonismos econômicos e políticos promovidos através da expansão do capital no oeste brasileiro. A violência no interior do território nacional está vinculada as disputas de posições de grupos econômicos presos, por sua vez, ao contrabando, ao descaminho, a política de cabresto e a outras práticas ilícitas. Assim, os dados revelam a existência de processos complexos que vêm forjando uma realidade social delicada na defesa do acúmulo de capital desenfreado. Com isso, destaca-se que pensar em segurança é pensar em processos de desenvolvimento e de organização do modelo econômico atualmente existente.


Um comentário:

  1. Bom texto, recupera algumas coisas que não podemos esquecer. Precisamos superar estes índices vergonhosos que fazem com que a fronteira se torne uma espécie de praça de guerra. Parece que este ano os números estão um pouco melhores... torço para que isso seja verdade!

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