terça-feira, 15 de março de 2011

Salve a Patifaria!

            O feriado de carnaval é provocante. Sensualidade, suor e sexo. Diversão, música e cerveja, alguns dias sem trabalho e muita preguiça no ar. Santa ociosidade e indiferença. Vivenciar o carnaval é um estágio antropológico para qualquer observador. No entanto, tirando toda a bizarrice, a animação e a sacanagem existente, ele configura-se como um período onde ocorrem coisas importantes e que merecem atenção cuidadosa. Na verdade, muitas coisas. Assim, este texto tem como objetivo apontar algumas delas
            Em Foz do Iguaçu observam-se quatro aspectos não excludentes. O primeiro deles, o mais óbvio, refere-se ao escasso apoio do poder municipal para a festividade. As escolas de samba, devido ao incipiente estágio de desenvolvimento, possuem poucas condições de organização e manutenção estrutural. Carnaval não se faz em meses, mas em anos. Sem o apoio público o processo de construção de algo autêntico é muito mais lento. Neste sentido, surge a primeira pergunta: é do interesse governamental que o carnaval surja como um novo atrativo para a região?
      Falando em autenticidade, a segunda questão levantada diz respeito à tradição. Historicamente o carnaval está vinculado às relações de sociabilidade existentes nas comunidades de baixa renda. Ele nasce das festas, da malandragem e do gingado do povo pobre, que rebola na busca da sobrevivência. Assim, a festa, o enredo e as máscaras nascem do ventre de relações comunitárias, é isso que lhe garante a originalidade e é isso que garante a sua existência. Segunda questão: a experiência carnavalesca existente no município é autentica e amarrada à identidade local?
             Partindo das duas primeiras observações nasce uma terceira. A inexistência de apoio governamental ou o baixo interesse da prefeitura e a suposta raiz comunitária do carnaval deveria abrir espaço para o desenvolvimento de organizações independentes. Logo, seria natural que as próprias agremiações organizassem seus bailes e ensaios nos seus bairros de origem, fortalecendo o nascimento de algo original e alicerçado nos processos de construção das identidades. Todavia, isso está longe de ocorrer de forma plena. Há poucas exceções, como o caso do Morumbi. Surge a terceira questão: se existe alguma autenticidade no movimento carnavalesco de Foz do Iguaçu onde está sua capacidade de organização independente e autentica?
       Os três primeiros pontos levantados não apresentam de maneira explícita a quarta questão, mas esta se faz presente de modo inevitável. Como um elo, o processo de mercantilização do carnaval se prende a essência dos problemas anteriormente apontados e se coloca de maneira central na sua análise. Como ocorre em outras situações, algumas delas já discutiras pelo Fronteira Zero, existem pouco interesse dos órgãos públicos e privados de Foz do Iguaçu em investir em algo que não seja imediatamente lucrativo. Assim, pergunta-se: é necessário o carnaval ser rentável para obter algum apoio no município?
         O fato de o carnaval ser uma suposta representação popular e uma suposta manifestação cultural da cidade, contribuindo com os processos societários das comunidades mais periféricas da cidade não são suficientes para uma melhor consideração do evento? É preciso que ele se torne algo artificial e um grande outdoor, chamando atenção de consumidores e turistas, para a festa ganhar alguma importância? O que a sociedade iguaçuense espera do carnaval local e o que os empresários desejam?
       As dúvidas colocadas visam unicamente uma reflexão sobre o gasto de nossas energias e sobre aquilo que ofertamos para moradores e visitantes. Não acreditamos que originalidade, autenticidade e profissionalismo sejam variáveis excludentes, apenas problematizamos as representações e as expectativas em relação à festa popular no município. O que somos? O que queremos? E o que podemos fazer? Perguntas chaves para a organização de algo democrático e que represente interesses múltiplos. 


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