A expansão do capital é articulada por meio de modificações nos processos produtivos e de mudanças ideológicas que visam neutralizar as situações de conflito. No primeiro momento observa-se o esforço econômico e científico de fazer com que o trabalho vivo seja desnecessário, diminuindo as vagas, terceirizando serviços e informatizando processos. Esta primeira transformação tem como objetivo duas coisas: 1) aumentar a produção e, consequentemente, o lucro e; 2) fazer com que o trabalhador seja desnecessário, pois segundo o capitalista é ele o maior obstáculo nas tentativas de ampliação do capital.
Nesta concepção, é o trabalhador que possui limites físicos que impedem a acentuação dos ritmos de produção. É o trabalhador que possui limites psicológicos para suportar a cobrança das metas e dos objetivos pré-estabelecidos. É com o trabalhador que a empresa gasta parte significativa do seu dinheiro no pagamento de impostos. É o trabalhador que “brinca” em serviço e provoca acidentes de trabalho. É o trabalhador que consciente ou não possui recursos e condições de resistir ao aumento da exploração e dos antagonismos de classe. Por tudo isso, ele precisa ser eliminado.
Ele precisa ser eliminado de forma ideológica. É preciso fazer com que o trabalhador não se observe como um sujeito histórico, não se observe como um elemento fundamental no processo de acumulação, não se observe em uma posição de classe antagônica à do capitalista. Utilizando da indústria cultural e dos acadêmicos pretensiosos engajados na defesa do modelo atualmente existente, cria-se o mito do empreendedor e do colaborador. Em ambos os casos, o esforço é arraigar na consciência coletiva a ausência de conflito de classe, abrindo espaço para alianças e para a individualidade, fragmentando sindicatos e impedindo a consciência de classe.
Ele precisa ser eliminado fisicamente. O esforço do capitalismo é eliminar o trabalho vivo do setor produtivo, fazer com que a produção de bens não dependa mais dos homens, pois são estes que dificultam a ampliação do processo de extração de mais-valia e são estes que podem se organizar e resistir à constante exploração, interrompendo a produtividade e a expansão do capital. Não suficiente, eliminar o trabalhador fisicamente significa eliminar os trabalhadores excedentes, aqueles que constantemente desequilibram os salários e os valores dos produtos, aqueles que desenvolvem formas alternativas de vida, aqueles que devido a precariedade de sua existência ameaçam a segurança pública.
Os poucos apontamentos realizados indicam dois caminhos de luta. É preciso que os sindicatos e todos os trabalhadores não organizados entendam sua importância no processo de acumulação de capital e exijam melhores condições de trabalho, explicitando sua posição de classe e sua posição diante dos processos de exploração e acumulação de capital. Além disso, também precisam observar os vínculos entre as diversas lutas dos movimentos sociais e apoiar de forma incondicional a organização dos trabalhadores desempregados. Cabe a estes se organizarem e lutarem por outro mundo, não naturalizando as situações dadas e construindo um projeto onde todos possuam as mesmas condições de existência. É somente a partir da consciência crítica do trabalhador, onde este se afirma como sujeito histórico e como construtor da mudança, que podemos pensar numa nova estrutura social.
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