sexta-feira, 29 de abril de 2011

A desqualificação do trabalho feminino no sistema capitalista

“Antes, o trabalhador vendia o trabalho do qual dispunha
 formalmente como pessoa livre, Agora vende mulher e 
filhos. Torna-se traficante de escravos.” (Marx)


A década de 70 no Brasil foi marcada pelo início do grande crescimento de oferta de emprego feminino, isto se deu pela expansão dos setores industriais na época. Havia “emprego”, no entanto havia também escassez de mão-de-obra qualificada, acompanhada de um decréscimo significativo no valor do salário mínimo. 
E é nesse sentido que se pode analisar a problemática proposta: neste momento que há o ingresso da mulher e também de seus filhos no mercado de trabalho. A oferta de emprego para as mulheres surge baseada na perspectiva da divisão sexual do trabalho, que vai se formando e estruturando as ideias tradicionais de trabalho adequado para cada sexo, essa mesma divisão torna-se também o princípio estruturador da desigualdade no trabalho. A mulher é vista sob o olhar do determinismo biológico, ou seja, é a partir do papel de reprodutora biológica que se organizará e se dará legitimidade a separação de funções entre homens e mulheres.
A compreensão sobre os estereótipos das mulheres é carregada de preconceitos e subestimação, uma vez que, a mulher é vista como um ser indefeso e incapaz. Aproveitando-se deste discurso, o capitalismo organiza suas práticas de exploração e controle do trabalho feminino. A mulher, além de se tornar propriedade do capitalista, também é atribuída como propriedade de seu marido, isso porque desde sempre concepções machistas repetem discursos que legitimam essa ideia. Somado a isso, destaca-se a necessidade dessas mulheres de venderem sua força de trabalho para contribuir com a renda familiar, e é nesse sentido que Marx fala sobre o homem como traficante de escravos – suas mulheres e filhos. 
A política empregada pelo modelo de flexibilização do trabalho é extremamente importante para o entendimento do trabalho feminino na contemporaneidade. A utilização das mulheres no mercado de trabalho aparece com configurações visivelmente estratégicas. Os contratos de curta duração, e o emprego com tempo parcial, principalmente na área doméstica são produtos desse modelo capitalista, e é exatamente nesse momento que o trabalho feminino passa por uma desqualificação, e consequentemente por uma remuneração inferior ao masculino. Para além desse efeito, é possível destacar o aumento das trabalhadoras autônomas, principalmente – e mais uma vez – no trabalho doméstico. A desvalorização do trabalho feminino, sobretudo nos empregos considerados de mais baixo prestígio, somado a falta de regularizações como carteira assinada e direitos constitucionais garantidos fez com que muitas mulheres optassem pelo trabalho autônomo e informal. 
É importante ressaltar que essas práticas de subsistência também são incorporadas ao trabalho masculino, no entanto, com relação às mulheres, possuem características peculiares como, por exemplo, a exploração do trabalho feminino nas casas de família e a prostituição. Na região das Três Fronteiras, o trabalho informal caracteriza as principais relações de trabalho da sociedade. A informalidade como consequência desse modelo exploratório sugador de mais-valia, apresenta diversas atividades de trabalho exercidas pelas mulheres. Em Foz do Iguaçu, o trabalho autônomo e informal abriga mulheres de várias nacionalidades, como as paraguaias que saem de seu país de origem em busca de uma forma de garantir o sustento de sua família. Basta, um passeio pelo centro da cidade turística das Cataratas do Iguaçu, para que essas trabalhadoras sejam vistas vendendo frutas, legumes e artesanato do outro lado da fronteira. Nesse sentido, é importante destacar também a exploração do trabalho de muitas adolescentes paraguaias nas casas de brasileiros em Foz do Iguaçu, como também nas cidades “colonizadas” por brasileiros dentro do Paraguai como, por exemplo, Santa Rita, Santa Rosa, entre outras.
Como resultado desse sistema sócio-econômico, nasce a problemática do trabalho feminino que fere os direitos humanos básicos dessas pessoas. Recentemente a mídia local divulgou uma matéria que apresentava a grave problemática da exploração da prostituição de muitas mulheres (crianças e adolescentes), brasileiras e paraguaias em Foz do Iguaçu. Percebe-se então que a desigual distribuição de renda, somada a falta de emprego e a falta de políticas sociais públicas que amparem essas trabalhadoras, gera como consequência as mais variadas atividades de trabalho.
Vivemos numa época em que o ser humano é considerado um instrumento de produção de lucro para o enriquecimento das minorias. Nesse sentido, o dia dos trabalhadores e das trabalhadoras, 1° de maio, deve possibilitar uma reflexão sobre problemáticas como esta. O trabalho realmente dignifica o homem? Este modelo de produção no qual os trabalhadores e trabalhadoras estão inseridos atende as necessidades e aos direitos humanos desses sujeitos históricos? 


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