Nas últimas semanas o MFZ publicou alguns textos problematizando a violência na fronteira e os índices de homicídios existentes na região. Explicitou os assustadores números referentes às mortes de jovens em Foz do Iguaçu e comparou a realidade local com outras realidades fronteiriças. Para finalizar, apresentou algumas teses para o melhor entendimento da realidade social particular que caracteriza o universo marcado pelas confluências dos limites internacionais.
Hoje a intenção é chamar a atenção para um fator que muitas vezes não é observado quando tratamos do referido problema de forma genérica, sem um grau maior de profundidade. Analisando a trajetória dos jovens vítimas de arma de fogo no município constata-se a quase ausência de crianças e adolescentes abrigadas ou ex-abrigadas nas casas de proteção a infância e, por outro lado, índices mais elevados de jovens com passagem pela polícia e pelo CIAADI.
Os números apresentados na tabela possibilitam inúmeras reflexões e entre elas gostaríamos de destacar apenas duas. Primeiramente, o baixo número de adolescentes abrigados entre as vítimas demonstram não apenas o sucesso de instituições, como a Fundação Nosso Lar, mas de uma concepção diferenciada de família e de inclusão social. E, em um segundo momento, as variações dos índices de jovens com passagem no CIAADI e sem nenhuma passagem pode denunciar modificações no perfil da violência existente na região das três fronteiras.
Apenas com um teor de reflexão, sem tentar tornar a abordagem científica ou sociológica, é interessante pensar que a relação entre estruturação familiar, processos de formação e institucionalização apresentam possibilidades diferenciadas. As questões sociais que atingem os núcleos familiares necessariamente não representam uma condenação à criança, isso deriva, em grande medida, da forma em que o processo de socialização tutelada ocorre. Para tanto, pensar os conceitos de juventude, família e inclusão social dentro de uma perspectiva crítica e ativa pode fazer diferença.
Por fim, as variações nos índices de jovens vitimados sem passagem e com passagem pelo CIAADI alimentam inquietações impossíveis de serem respondidas aqui, mas que valem ser expressas. Deste modo, fica no ar a dúvida: 1) vítimas com trajetórias diferenciadas representam crimes diferenciados? 2) estas variações denunciam formas diferentes de abordagem à violência e formas de proteção ao menor mais particulares? Poucas perguntas, mas que exigem uma análise posterior.
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