segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Para pensar as necessidades locais.


            Foz do Iguaçu vem passando por um momento de redefinição de sua economia durante a última década. Os antigos vínculos existentes com o comércio do Paraguai não são mais suficientes para atender as necessidades da população local. O circuito sacoleiro não mais absorve o imenso mercado de trabalhadores de reserva existente na cidade.
            No entanto, não existem outros setores da economia cristalizados ou desenvolvidos de forma suficiente para ocupar a lacuna deixada. De um lado visualiza-se o esforço de construir uma cidade universitária, de outro uma retomada do turismo, enquanto as variáveis que indicam o processo de empobrecimento da população vão sendo divulgados semanalmente.
            Durante esta última semana dois novos índices sociais foram divulgados, que vão ao encontro do debate referente ao processo de “esvaziamento” do município apresentado pelo último censo do IBGE. Atribuindo a possíveis migrações internas no interior do próprio Paraná, o IBGE demonstrou uma diminuição representativa da população iguaçuense.
            Os dez anos que separam as duas últimas pesquisas realizadas pelo instituto correspondem ao período no qual as ocupações informais deixaram de se apresentar como uma rede precária de proteção e renda para parte significativa da população em idade economicamente ativa, sem que nada fosse construído para preparar e absorver suficientemente estes trabalhadores.
Como foi divulgado esta semana, existe um déficit habitacional correspondente a 15 mil famílias em Foz do Iguaçu, um problema histórico, que se arrasta há aproximadamente 40 anos. O processo de favelamento do município iniciou-se na década de 1970 e se estende até os dias de hoje, passando projetos habitacionais, projetos de remoção de favelas e por diferentes ciclos econômicos.
As invasões e favelas surgem devido ao déficit habitacional e a baixa renda da população. Contudo, elas geram um sentimento de comunidade forjada através da solidariedade, da necessidade e algumas vezes do medo. Logo, os esforços em melhor as condições de vida destas 15 mil famílias não devem ser concentrados exclusivamente na construção ou ocupação de casas, mas no oferecimento de novas condições de vida.
O segundo indicador divulgado durante a semana passada diz respeito ao aumento nas taxas de homicídios juvenis na cidade. Números que crescem ano após ano, independente dos esforços governamentais em segurança pública. Juntas, estas variáveis denunciam aquilo que precisaria ser de interesse público e, consequentemente, aquilo que necessita urgentemente de intervenção.
Os buracos no asfalto das ruas da cidade, não são mais sérios que os buracos nos telhados ou dos esgotos abertos existentes na periferia da cidade turística. Os estudantes universitários não são mais importantes que aquelas vítimas da insegurança e dos processos de empobrecimento oriundos da ampliação das desigualdades sociais.
Ao invés de observarmos a inclusão da população vulnerável no circuito turístico através do fortalecimento de atrativos marginais ao corredor oficial e através de cursos de formação públicos e gratuitos de guias para a inserção social dos jovens (como ocorre nas cidades históricas de Minas Gerais e em Pernambuco, por exemplo), constata-se o poder e a renda concentrados nos mesmos grupos empresariais.
O principal atrativo de qualquer lugar é população nativa, a educação, a organização e a acessibilidade dentro de sua concepção mais ampla. Não se faz turismo sem pessoas, sem moradores, sem cultura. Assim, pensar o desenvolvimento da cidade é pensar em quem constrói a cidade, é pensar naqueles que a vivem cotidianamente. Está na hora de olharmos para dentro e resolvermos aspectos básicos de nossa formação e sociabilidade.
No meio disso tudo, sobra à inquietação que nos faz refletir e perguntar: como a delegacia da mulher, do turista, de homicídios pode resolver problemas que possuem como principais agentes causadores as desigualdades, a pobreza. Operações especiais da polícia e investimentos em segurança das mais diferentes formas parecem dividir a cidade em dois mundos, um para os estabelecidos (incluídos) e outro para os outsiders (excluídos).

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