segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Reflexões de Travesseiro

            Vinicius de Moraes afirmava que “amar é a arte do encontro” e se assim for política é a arte do diálogo. Encontros e desencontros fazem nossas relações, nossas sensações e sentimentos, porém de nada vale as descobertas, as coincidências e os esbarrões cotidianos se as oportunidades não forem repletas ou preenchidas pelo esforço do convencimento. É este esforço a ação política.

            Convencimento? Conquistar é convencer o outro a ceder ou temer. Inconscientemente a conquista envolve submissão ou a ação de conceder, de permitir que o outro entre em sua vida, seja uma permissão feliz e livre, seja uma invasão sem o devido tempo para reflexão. Se amar envolve política, pois envolve o convencimento e a troca, imaginemos o diálogo ou a conversa de botequim.

            A conversa tem caminhos indefinidos. De modo autoritário ela pode corresponder a um monólogo, onde existe a imposição de posições, de teorias, de ideologias. Por outro lado, pode existir a conversa que se entrelaça e que se abraça, que se mistura produzindo novas cores, novos filhos, novas idéias, fundamentando a essência do diálogo, que é a dialética, tão mal entendida e tão importante.

            Política não é o Estado, política não é o partido, o movimento social ou a instituição. Política é arte do diálogo, é saber aproveitar dos encontros e das conversas para conquistar, para construir, para fundar novas partes, iniciar novos passos, trilhar outras passagens. A política não é aquela realizada pelos “colarinhos brancos”, a política é nossas práticas, nossa vida, pois o que fazemos nela além de percorrer caminhos de encontros e desencontros, encantos e desencantos.

            Reconhecer o mundo como político é ver de forma lúcida os enredos interpretados durante a vida social, é não negar o seu lugar e o seu papel nos processos de sociabilidade, é não deixar que o diálogo seja marcado por uma conquista inócua, onde uma das partes simplesmente por indiferença ou alienação, deixa aquele que domina estabelecer suas leis, gostos e valores, impondo, determinando, fugindo da produção original da substância ou da síntese.    

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