quarta-feira, 11 de maio de 2011

Educação: ensinar para explorar

            No intuito de explicitar mesmo que minimamente, alguns apontamentos e problemáticas ao entorno da Educação brasileira, debatemos aqui, alguns aspectos que apontam as influencias do modelo de ensino adotado nos últimos anos. Entende-se aqui Educação como sendo mecanismo de preparo do individuo para a sua participação ativa na sociedade. Neste sentido, observa-se que a LDB (lei de diretrizes e bases da educação nacional - lei nº. 9.394, de 20.12.96) em seu texto declara que:

a educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e nas manifestações culturais.
§ 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e a pratica social.
           
Assim, poderíamos acreditar que a educação realmente prepara o indivíduo para conviver em sociedade e, também, promove os meios para essa ocorrência. Entretanto, a realidade a qual presenciamos e os estudos sobre a área, direcionam a uma perspectiva totalmente adversa a esta. A educação, de modo geral, vem se apresentando disfuncional, não cumprindo com os objetivos mais modestos a ela atribuídos.
Ao refletirmos as transformações ocorridas no mundo do trabalho, constatam-se tendências crescentes de redução do número de trabalhadores em postos de trabalho antes considerados "estáveis” e que, em alguns lugares, eram ocupados por trabalhadores altamente escolarizados e qualificados. Observa-se também que estes postos de trabalho muitas vezes foram  transferidos para empresas terceirizadas, promovendo a flexibilização e a degradação do trabalho, fazendo com que os trabalhadores cada vez mais fiquem a mercê de sua própria sorte.
Setores crescentes nos meios industriais e também comerciais evidenciam um significativo crescimento deste modelo de atividade, com implicações em termos de qualidade, pois se trata de novos postos de trabalho que não requerem uma alta qualificação profissional. Segundo Castel (1999), há dois segmentos de emprego, um mercado "primário", formado por elementos bem qualificados, melhores pagos, protegidos e mais estáveis, e um segundo mercado “secundário", constituído por elementos de qualificação precária, com remuneração mais baixa e diretamente submetida às flutuações das demandas de mercado.
A flexibilidade do mercado de trabalho acentua a degradação do mercado “nacional". Com as industrializações tradicionais e as subqualificações dos empregos, os processos de contratações agravaram-se ainda mais com a terceirização das atividades. A flexibilização não reduz a necessidade de se ajustar mecanicamente a uma tarefa pontual, ela exige do operador a disponibilidade para adaptar-se as flutuações do mercado de trabalho.
Para suprir esta demanda a empresa pode recorrer a uma subcontratação (terceirização) ou a um treinamento do seu pessoal, para a flexibilização e a polivalência a fim de lhe permitir enfrentar toda a gama de novas situações. No primeiro caso, o cuidado em assumir as flutuações de mercado é confiado às empresas satélites, no segundo caso, a empresa assume os riscos pela adaptação do seu quadro de pessoal e as mudanças tecnológicas.
Diante de todas essas mudanças, o trabalhador deverá adequar-se ao mercado vencendo dificuldades, tornando-se polivalente e respondendo com rapidez as demandas impostas ou corre o risco de ser substituído por outro profissional.
A educação nesse momento passa a ser um mero instrumento do capital para o trabalhador buscar sua própria qualificação e se auto-ajustar dentro do mercado, indo em busca de uma formação (qualificação da força de trabalho) mais rápida. Esta formação não fica limitada somente a um tipo de atividade, mas possibilita que este novo trabalhador possa exercer várias outras funções dentro do seu ambiente de trabalho, caracterizando-o como polivalente/proativo.
Sendo assim, as instituições de ensino para atender as exigências da formação deste novo modelo de trabalhador passam a se adequar ao sistema, oferecendo cursos técnicos e fazendo parcerias com as indústrias, para qualificar os alunos e já instruindo-os a uma atividade futura. Dessa forma, a educação acaba perdendo o seu real valor de instruir para a vida e as relações sociais dentro da sociedade.
No meio disso, o que se vê é a crescente mercantilização da educação. Esta se tornou um negocio altamente lucrativo, principalmente com a idéia que se vende da educação pública falida e ineficiente, o que promove o marketing ao entorno das escolas e IES privadas. O que resta então aos usuários da educação pública? Como promover o avanço, a mudança e os novos rumos da educação brasileira pública com escolas sem infra-estrutura adequada, professores mal qualificados, desmotivados e mal remunerados, tendo que trabalhar em péssimas condições?
O que se vê? à educação voltada para o trabalho puramente laborativo, para a qualificação da força de trabalho, aumentando o exercito de trabalhadores de reserva. O que não se vê? A formação de intelectuais e atores sociais conscientes com a condição em que vivem.

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