terça-feira, 24 de maio de 2011

Educação, Rede Globo e Políticas Neoliberais

Nestes últimos dias um vídeo em especial tem se destacado nas mídias brasileiras por apresentar a indignação de uma cidadã frente a um problema que o Brasil enfrenta a muitos anos, a Educação Pública. Na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte ocorreu uma audiência pública no dia 10/05, após algumas falas, a professora Amanda Gurgel pediu a palavra e de maneira pontual detalhou os problemas enfrentados pela categoria dos educadores não apenas daquele estado, mais de todos os outros estados que compõem o Brasil.


A fala desta professora foi filmada e postada no mundo virtual dos computadores e pronto! O vídeo alcançou mais de um milhão de acessos, sendo inclusive postado em blogs pessoais de artistas famosos que se declaram favoráveis a causa apresentada. A repercussão foi tão grande que a emissora Rede Globo convidou a professora para comparecer em um de seus programas de domingo, apresentado em horário nobre.

Percebe-se neste fato a repercussão deste episodio, pois para a Rede Globo que possui uma linha de interesses bem definida, levar uma sindicalista para expor os problemas envolvendo uma classe de trabalhadores, é porque o negocio rendeu e há possibilidade de um bom ibope. Globo e classe trabalhadora dificilmente são sinônimos, a menos que a classe trabalhadora seja inofensível para com os seus interesses. Isso já aconteceu.

É bem engraçado uma emissora que promove um projeto denominado “amigos da escola”, de caráter neoliberal e voluntarista, ao qual tenta isentar o Estado de suas obrigações, se mostrar solidária aos problemas reais da educação brasileira. Será que o leitor tem conhecimento do desfavor que este projeto gera para os problemas que de fato existem? O “amigos da escola” é um projeto ao qual tenta conscientizar profissionais de diversas áreas para auxiliar a escola em suas atividades, esses profissionais são os denominados voluntários. Não é a toa que esse programa recebe severas críticas dos pesquisadores em educação, afinal programas como estes tentam tirar a responsabilidade da educação do Estado, transferindo-os para a sociedade.

Ao invés do Estado cumprir com seu dever, ao qual é fornecer uma educação pública e de qualidade que passa desde salários dignos aos profissionais da educação, infraestrutura adequada, redução de alunos em sala de aula, aumento de hora atividade para o professor, entre outras reivindicações da categoria, prefere maquiar o problema apresentando números, índices, metas e induzindo a comunidade a auto gerenciar a educação.


Se já não bastassem as altas cargas tributárias a que somos obrigados a pagar para recebermos uma Educação e uma Saúde precárias, querem que trabalhemos de graça. Educação é responsabilidade integral do Estado, não do cidadão. Cabe ao cidadão participar ativamente da escola afim de torná-la cada dia mais democrática, mas esta participação não passa por políticas  incentivadas pela Rede Globo.

De qualquer forma, nenhuma pessoa ligada diretamente a política do país podem alegar desconhecimento dos problemas que um professor enfrenta em sala de aula, afinal a professora em questão elencou alguns destes de maneira direta. A vantagem deste vídeo foi a repercussão obtida, pois levou o clamor de uma categoria a um número elevado da população brasileira.
           
Para encerrar essa reflexão que junta Educação, Rede Globo e Políticas Neoliberais, cabe ressaltar que as mudanças educacionais necessárias só ocorrerá com reivindicações em massa, pois, enquanto o Estado se amparar em políticas neoliberais para conduzir pastas como a Educação e enquanto tiver emissoras compromissadas com o capital para difundir essas idéias, a população terá seu amparo restrito na luta de classe.


Um comentário:

  1. As pessoas que trabalham na área da educação sabem que não existe novidade no discurso apresentado. A novidade encontra-se no espaço que a rede globo vem dando a discussão sobre a educação. É possível observar que nos últimos dez dias o veículo de comunicação vem noticiando problemas com a merenda, com a segurança, com a infraestrutura, etc., fazendo um serviço que não é habitual na emissora ao problematizar o papel do Estado na educação. Contudo, é possível interpretarmos a posição da globo não em defesa da educação pública, mas na demonstração da deficiência do Estado em cuidar do ensino e na abertura das possibilidades de gestão da educação pelo setor privado... A Globo, como o próprio capital, absorve o discurso crítico, no caso o sindical, para explicitar a incopetência da administração pública. O pior de tudo isso é que muitos críticos não persebem, acham que a professora está obtendo espaço para denunciar os problemas, mas na verdade ela está subsidiando o próprio capital de elementos para vendermos a educação pública.

    ResponderExcluir