Karol Assunção
Jornalista da Adital
Pakitzapango, Complexo Madeira e Belo Monte. Esses são os nomes das três hidroelétricas que ameaçam os territórios e as comunidades indígenas da região amazônica do Peru e do Brasil. Para protestar contra a construção dos projetos, três indígenas da Amazônia foram, nesta semana, para a Europa. A ideia é realizar protestos e manifestações em Oslo (Noruega), Genebra (Suíça), Paris (França) e Londres (Inglaterra).
Os povos amazônicos estão representados pelos/as indígenas: Ruth Buendia Mestoquiari, indígena ashaninka do Peru; Sheyla Juruna, da região Xingu, Pará, no Brasil; e Almir Suruí, de Rondônia, também no Brasil. Os três participam, desde segunda-feira (21), de reuniões e atividades com autoridades e representantes de empresas e organizações de direitos humanos do continente europeu.
De acordo com Renata Pinheiro, integrante da coordenação do Movimento Xingu Vivo para Sempre, o objetivo da missão é fazer um alerta sobre a situação dos indígenas afetados pelas represas. Renata explica que, durante as atividades nos países visitados, a delegação tenta mostrar os danos causados pela construção das hidroelétricas e alertar para os riscos financeiros dos projetos. "A ideia é fazer um contraponto ao que vem sendo apresentado pelo Governo”, destaca.
Além disso, querem "desconstruir uma série de argumentos apresentados pelo Governo Federal [brasileiro]”, como os de que, se não construir Belo Monte, haverá um apagão no país; e que as grandes hidrelétricas são fontes de energia limpa e barata. "Queremos mostrar qual o preço da política energética que o Brasil está querendo impor para o Brasil e para o mundo”, ressalta.
De acordo com informações de Survival International, o projeto da hidroelétrica de Pakitzapango, no rio Ene (Peru), por exemplo, inundará quase 100 mil hectares e afetará mais de 10 mil indígenas ashaninka. O projeto custará cerca de 6 bilhões de dólares e teve a concessão outorgada sem informar ou consultar a população indígena afetada.
Situação parecida acontece em Rondônia, no Brasil, com a construção do complexo do Rio Madeira, projeto que prevê a construção de quatro represas hidroelétricas. Duas delas, de Santo Antonio e Jirau, já estão em fase de construção. Entre os impactos, destacam-se: deslocamento de indígenas e demais comunidades da região, risco à biodiversidade, perda do acesso a produtos agrícolas e de extração florestal, e problemas sociais associados à ida massiva de pessoas em busca de emprego, como superpopulação e aumento da violência.
A usina de Belo Monte, no rio Xingu, Pará (Brasil), também é alvo de protestos. Segundo Survival, o projeto desviará boa parte do curso do rio Xingu, o que provocará sérios danos às populações que dependem do rio. Além disso, estima-se a destruição de mais de 1.500 km quadrados e o deslocamento forçado de mais de 20 mil pessoas. Isso sem falar nos 800 indígenas e milhares de famílias ribeirinhas afetadas.
Atividades
As três lideranças indígenas estão desde o dia 19 na Europa para realizar atividades e manifestações contra os projetos hidroelétricos na região Amazônia. Na segunda-feira (21), os indígenas foram a Oslo (Noruega) participar de um seminário para alertar investidores sobre os riscos de projetos na região Amazônica. No dia seguinte, reuniram-se com representantes de empresas e do governo norueguês para discutir sobre o papel do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) como financiador dos projetos hidrelétricos.
Hoje (23), a delegação está em Genebra (Suíça) para uma reunião com o Alto Comissariado para os Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) e com o Relator Especial para Assuntos Indígenas da ONU. Amanhã (24), participarão de uma sessão do Comitê para Eliminação da Discriminação Racial.
Na sexta-feira (25), vão a Paris (França) para reuniões com empresas que participam de consórcios dos projetos no Brasil e no Peru. No dia seguinte (26), ainda na capital francesa, marcarão presença em uma manifestação contra as hidrelétricas e a empresa Suez, uma das investidoras nos projetos na América Latina. A mobilização será na Praça dos Direitos Humanos, a partir das 12h (horário local).
A viagem terá a última parada em Londres (Inglaterra), onde a delegação se encontrará com integrantes do Parlamento e com representantes das embaixadas do Brasil e do Peru. No dia 2, promoverão uma manifestação em frente ao escritório do BNDES.
Nenhum comentário:
Postar um comentário