segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Empregos e Desenvolvimento em Foz do Iguaçu

Recentemente foi noticiado que a geração de empregos no Município de Foz do Iguaçu tinha obtido os melhores resultados da última década. Entre 1º de janeiro e 31 de agosto de 2010 teriam sido admitidos 16.437 trabalhadores contra 13.830 desligamentos, promovendo uma média positiva de 2.607. A análise fria dos números pode satisfazer aos desavisados, pois qualquer expansão do mercado em um período de incertezas econômicas e de reorganização da estrutura produtiva e contratual na região é digna de nota.  
Não é novidade para os moradores da região a intima relação da econômica local com as ocupações oriundas do comércio internacional com Paraguai. Historicamente, grande parte do dinheiro que circulava na cidade era originada das relações estabelecidas com os laranjas, sacoleiros, cigarreiros e barqueiros. Até o começo dos anos 2000 aproximadamente 60% da força de trabalho economicamente ativa do município estava vinculada direta ou indiretamente ao país vizinho.


No entanto, com as mudanças nas políticas de fiscalização e a regulamentação da lei dos sacoleiros este mercado tornou-se mais restrito. Embora o contrabando e o descaminho continuassem sendo práticas comuns na região, fato comprovado pelo constante aumento nos valores apreendidos pela Receita Federal e pelo contínuo abastecimento das feiras de importados espalhadas pelo território brasileiro, tais ocupações começaram a absorver um contingente menor de trabalhadores.
Uma massa populacional marcada por baixos níveis de escolaridade gradativamente foi tornando-se desocupada. Dentro de uma conjuntura de recessão econômica, já que valores movimentados pelo circuito sacoleiro estavam diminuindo acentuadamente, o avanço dos processos de acumulação de capital na região tornou-se fragilizado. A força de trabalho desqualificada, a falta de recursos para investimento, a falta de um projeto de desenvolvimento e de um planejamento econômico tiverem como conseqüência o aumento generalizado da pobreza.

Ocupações com Melhores Saldos de Admissão entre Jan. de 2003 e Jan. de 2010
CBO
Sal.Médio Adm.(R$)
FREQÜENCIA
Admissões
Desligamentos
Saldo
 Auxiliar de escritório, em geral
454,13
8.433
7.196
1.237
 Faxineiro
389,35
3.737
2.848
889
 Embalador, a mão
332,09
1.503
847
656
 Manutenção de edifícios/logradouros
418,21
3.083
2.432
651
 Servente de obras
476,30
5.710
5.109
601
 Vendedor de comércio varejista
479,68
11.075
10.615
460
 Recepcionista, em geral
455,51
3.132
2.716
416
 Repositor de mercadorias
432,73
2.348
1.992
356
 Atendente de lanchonete
416,60
2.212
1.858
354
 Ajudante de motorista
475,23
1.214
874
340
 Contínuo
397,51
2.514
2.200
314
 Zelador de edifício
394,12
2.213
1.927
286
 Auxiliar de enfermagem
524,48
1.040
754
286
 Operador de caixa
462,68
4.142
3.869
273
 Motorista de caminhão
831,13
2.290
2.056
234
 Assistente administrativo
645,79
2.203
1.984
219
 Cozinheiro geral
447,18
3.522
3.315
207
 Garçom
454,56
3.011
2.848
163
 Porteiro de edifícios
495,06
1.145
983
162

Logo, a geração de empregos anunciada no primeiro semestre de 2010 é significativa por absorver parcela deste exército de trabalhadores. Sem embargos, os dados do CAGED/Ministério do Trabalho demonstram que as 20 ocupações que mais empregaram no município não exigem maior qualificação. Ao contrário das outras cidades da região oeste do Paraná, que possuem o setor produtivo como o principal gerador de emprego, Foz do Iguaçu observa suas vagas vinculadas, principalmente, aos serviços básicos.
Tal situação é positiva por representar a absorção de uma parcela da população em estado de vulnerabilidade e um primeiro rompimento com as práticas distributivas de renda atualmente desenvolvidas. Em outras palavras, as vagas geradas estão direcionadas, principalmente, a uma parcela da população socialmente vulnerável, fato que é significativo. No entanto, analisando o quadro dentro de uma perspectiva mais ampla, alguns elementos precisam ser destacados.
Em um primeiro momento, precisa ser observado que tais vagas por não estarem envolvidas com a produção de mercadorias com alto valor agregado e não exigirem um alto capital intelectual possui um processo de extração de mais-valia limitado e restrito ao pagamento de baixos salários. A exploração do trabalhador ocorre explicitamente através do pagamento de salários irrisórios, já que as atividades em si não permitem um lucro direto e imediato. Com isso, a velocidade dos processos de acumulação também se torna restrita.
Em grande medida, a rentabilidade do setor de serviços, predominante em Foz do Iguaçu, é obtida através do pagamento irrisório à força produtiva. Mergulhada nas leis de mercado exploradas por Adam Smith, a venda de mercadorias com preços contendo uma alta margem de lucratividade interfere diretamente na concorrência, assim, para garantir bons negócios, a tendência adotada vem em direção à degradação das relações de trabalho e à flexibilização do atendimento, quando não de seu próprio sucateamento.
 A conseqüência disso, por incrível que pareça, é a manutenção dos antagonismos sociais. A população de baixa renda ao ser utilizada e inserida dentro do mercado de trabalho na atual configuração garante a preservação e a reprodução das forças produtivas de um lado e a ampliação dos processos de acumulação de grupos minoritários por outro. Além disso, garante o desenvolvimento da “passivação”, o que significa a alimentação da falsa sensação de inclusão social, dificultando a autonomia, a autogestão e a revolta contra o modelo político econômico existente.
Qualquer desenvolvimento regional sustentado pelas contradições entre capital/trabalho não garante a emancipação humana e, muito menos a existência de uma democracia de fato. Sabemos que a geração de empregos com perfil para absorver a força produtiva desocupada pelas transformações nas relações comerciais do Brasil com o Paraguai é importante. No entanto, acreditamos que o caminho escolhido força uma adaptação dos trabalhadores ao modelo existente e garante a super exploração dos trabalhadores obrigados a uma recolocação no mercado.
As mudanças nos mundos do trabalho na fronteira jogam de maneira rasteira com qualquer noção de humanidade. O circuito sacoleiro foi durante muitos anos uma ferramenta de geração de renda para uma imensa parcela da população não assimilada pelo mercado formal. Logo, fechando esta possibilidade de renda, restam apenas outras três: buscar se adaptar e se inserir naquilo que é oferecido pelo mercado, desenvolver novas formas de organização econômica ou a criminalidade.
Levando em consideração que a segunda alternativa não é incentivada por ir contra a ordem do capital e que a terceira é severamente coibida pelas inúmeras operações policiais e pelos altos índices de “homicídio” na região, resta apenas uma. Forçar a adaptação e a padronização silenciosa dos trabalhadores ao universo precário e rentável do trabalho assalariado, mal qualificado e mal remunerado da fronteira.

Um comentário:

  1. O blog está produzindo algumas discussões interessantes e fundamentadas. Continuem assim!

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