segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O Rio de Janeiro e a Democratização da Comunicação

            Aqueles que acompanham o blog e o site do Movimento Fronteira Zero devem estar esperando que essa semana apareça vários textos comentando os ocorridos no Rio de Janeiro. Artigos problematizando suas possíveis conseqüências e as relações dos fatos com a nossa região de fronteira ou tentando investigar e explorar possíveis violações nos direitos humanos. De fato, é provável que isso venha ocorrer em diferentes medidas, ainda mais se for depender dos relatórios da ONG Viva Rio que coloca nossa divisa internacional como a principal porta para a entrada de armamento no país.
            Porém, isso não será feito de forma explícita ao menos neste momento. Evidentemente que a situação colocada levanta um monte de questões que precisam ser respondidas adequadamente, entre estas surgem dúvidas a respeito dos inúmeros direitos violados pelos grupos de traficantes e pelos agentes participantes da operação policial, dúvidas a respeito da reorganização da vida dos moradores das comunidades e da possibilidade de resolução das verdadeiras questões sociais presentes nas favelas, dúvidas sobre a simples troca de controle social que pode significar tais operações.
            No entanto, além de tais problemas, existe outro que ocorre simultaneamente e que precisa ser mais bem explorado. A cobertura realizada pela grande imprensa alimenta um sentimento de inquietude em relação aos possíveis interesses envolvidos com todo o ocorrido. As leituras apresentadas sobre a operação estão carregadas de um espírito de libertação e de renovação, como os moradores estivessem passando por uma segunda abolição. Talvez estejam mesmo, saindo de uma vida controlada fisicamente para ingressar em um estágio social onde o controle ocorre de maneira mais subjetiva. 
            No meio de cartas sem autores e de entrevistas desconfiadas realizadas pelos diferentes canais de televisão, uma fala entre tantas chama a atenção: “a gente tem que achar bom né?”.  Mas o que isso quer dizer? Quem espera que o entrevistado afirme que as coisas irão melhorar? O próprio entrevistado? Deus? Traficantes? Policiais? Governo? Ou a própria imprensa? A intenção da observação aqui realizada não é direcionada a operação ou aos policiais, mas o modo de abordagem do problema pela mídia, o que queremos é uma leitura crítica e que vá além das análises superficiais.
            Afirmar que os traficantes estão com medo e desorganizados, por isso fazem atentados. Afirmar que a estratégia adotada na operação é melhor, utilizando para tanto ex-membros do próprio corpo policial, não representa com profundidade a necessidade de informação e de análise exigida. Assim, apontamos para a necessidade de um acompanhamento mais atento dos acontecimentos no Rio de Janeiro e para uma maior liberdade de imprensa. Para isso, defendemos o incentivo a comunicação social alternativa e o livre uso da internet. É necessário o fortalecimento de outras mídias para romper com as “leituras interessadas” realizadas pela imprensa convencional, como também é preciso a criação de outras redes para a democratização da informação no país.

Sugestões de Leitura:

Um comentário:

  1. Imposssível concatenar os jogos de interesses que correm por trás de tal acontecimento...
    Muitas opiniões divergentes e especulações que rondam às soltas.

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