terça-feira, 30 de novembro de 2010

Os fins justificam os meios?

Em virtude da necessidade ou qualquer que seja o motivo, várias coisas são feitas contra a regra. A necessidade torna lícito o que era ilícito e serve como justificativa para uma transgressão de direitos.
Começamos com uma reflexão de Giorgio Agamben, autor do livro Estado de Exceção, que busca compreender como ocorre a supressão de direitos individuais pelas democracias modernas realizadas através do próprio direito.
Desta forma, aproveitando o post de ontem, acreditamos que a afirmativa acima seja bem pontual para o tema mais discutido em todas as mídias nesta semana, a tomada dos morros no Rio de Janeiro.
Diante de toda a repercussão desse assunto, um dos maiores problemas está associado ao fato de que só foram tomadas atitudes de grandes proporções como estas a partir do momento que os traficantes pisaram no calo das classes média e alta.
Ou seja, enquanto o tráfico era tolerado, - até por que fazia às vezes do Estado e não atrapalhava o satisfatório desenvolver das atividades dos "além-morro" -, acreditava-se haver uma certa harmonia nisso, o que é evidentemente falsa.
Aproveitando essa oportunidade, queremos destacar, sem condenar ou aplaudir, que em momentos delicados como este toda a atitude tomada ou opinião dita deve ser meticulosamente pensada e repensada.
O que se quer chamar a atenção é que nesse tipo de medida de urgência são atropeladas inúmeras garantias constitucionais. Adentram em residências e prendem suspeitos, já os trancafiando logo em seguida em penitenciárias de segurança máxima em outros estados, tudo sem as devidas observações dos procedimentos legais. Fato este que só favorece a defesa daqueles que realmente deveriam ser presos, pois geram inúmeras nulidades no processo, facilitando a defesa não do mérito da causa, mas a processual, que geralmente é feita para que ocorra alguma forma de prescrição da pretensão punitiva.
É necessário levar em consideração que não se deve nestes casos utilizar como palavra de ordem a máxima de Maquiavel em que "os fins justificam os meios", pois podemos nesta atitude estar ignorando todo o estatuto jurídico dos indivíduos, conquistados ao longo dos séculos, produzindo, dessa forma, um ser juridicamente inominável e inclassificável.
Portanto, gostaríamos que o leitor refletisse que coisas do tipo acontecem todos os dias, e que cabe a todos observar com atenção para não aceitar que atitudes de emergência acabem se tornando regras, para que fatos isolados não se tornem corriqueiros.

Um comentário:

  1. Violações de de Direitos individuais. Isso tava na cara que ia acontecer

    http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/rio-contra-o-crime/noticia/2010/11/moradores-denunciam-possiveis-abusos-de-policiais-no-alemao.html

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